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Terra de heroínas, Campos ainda tem dificuldades para eleger mulheres na política

Com os resultados das últimas eleições, o Campos 24 Horas mostra que a participação da mulher na vida política do município ainda é pequena

Fotomontagem: Campos 24 Horas.

Postado por Fabiano Venancio – Na terra de heroínas como Benta Pereira, Mariana Barreto e Nina Arueira, além de ter Rosinha Garotinho como prefeita por dois mandatos recentemente, e onde em seu brasão se lê que “aqui as mulheres também lutam por seus direitos”, não há nenhuma representação feminina na Câmara Municipal. Mesmo após a exigência legal de um percentual mínimo de 30% de candidaturas femininas em cada partido nas eleições proporcionais, como forma de reforçar a participação da mulher nos espaços de poder, o cenário não se alterou, muito pelo contrário. Na última disputa eleitoral em Campos, partidos recrutaram mulheres para serem candidatas, houve denúncias de fraudes nas candidaturas femininas, onde as siglas foram acusadas de utilizarem as mulheres como “laranjas” para apenas cumprirem a legislação. Houve algumas exceções da participação feminina na última eleição no município, com 1o mulheres bem votadas, conforme o site Campos 24 Horas mostra nesta matéria (Aqui), mas a boa performance deste grupo de mulheres não foi suficiente para que nenhuma delas conquistasse uma cadeira no Legislativo municipal.

Ex-vereadora e subsecretária de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de Campos, Josiane Morumbi considera que é preciso mais do que apenas montar as nominatas com mulheres candidatas para o cumprimento da exigência legal.

“Não basta a cota que garante a inscrição de candidaturas femininas, mas dar a elas condições de trabalho para que sejam competitivas na disputa eleitoral e possam aumentar a representatividade nas casas legislativas. Não basta apenas completar a cota para preencher uma exigência legal. É inadmissível, como ficamos sabendo, que mulheres candidatas tinham que apoiar quem garantiu a vaga”, disse.

Josiane lembra ainda que como presidente de partido não teve dificuldades em recrutar candidaturas femininas. “As mulheres hoje inclusive são maioria, mas precisam de conscientização de que o espaço público é também o seu lugar de fala. Como presidente, nunca tive dificuldades em inclui-las como candidatas no partido e muitas tiveram inclusive boa votação. O que falta é a preocupação da maioria dos partidos com a formação de lideranças femininas e dotá-las de condições para disputa”, afirmou.

“O trabalho passa também pela conscientização de que a boa política é transformadora, e das decisões políticas dependem o funcionamento de todas as atividades em geral e da vida de todos nós, desde aquele megaempresário ao trabalhador assalariado”, acrescentou.

Na Câmara Municipal de Campos, lembrou ainda Josiane, por ausência de representação feminina, o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher é presidida por um homem. “Tudo porque não temos uma representante feminina. Não que um homem não seja capaz de presidir bem a comissão, mas a mulher teria mais sensibilidade para ocupar esta função”, observa.

A vice-presidente municipal do PT em Campos, Luciane Soares Silva, considera que a participação da mulher na política brasileira enfrenta muitas dificuldades. “Os espaços públicos, na medida em que são tradicionais, refletem a mesma distribuição do poder na sociedade. O fato é que esses partidos, com seus donos ou caciques, trabalham muito mais por questões fisiológicas, não estão interessados em construir qualquer tipo de transformação na sociedade, mas gerir o estado, muitas vezes de forma pouco transparente ou democrática e até privatista”, analisou.

A dirigente petista avalia ainda que houve avanços no plano nacional, com a eleição de Dilma Roussef e outras figuras emblemáticas, mas no âmbito local ainda há muito que se conquistar.

“Nós do PT temos total consciência do papel importante das mulheres na política, até porque elegemos uma presidenta que foi impedida de governar exatamente a partir desta compreensão. E seguindo o exemplo da Dilma, tivemos mulheres históricas no Brasil como a própria Benedita da Silva ou a Luiza Erundina, entre outras”.

BAIXA REPRESENTAÇÃO – Nas eleições de 2022, brasileiros elegeram 91 mulheres, o equivalente a quase 18% do quadro total. Esse resultado é maior do que em 2018, quando 77 mulheres foram eleitas. Entre os partidos, o PT elegeu 21 deputadas, seguido pelo PL, que garantiu 17 assentos na Câmara. O PSD também aumentou o número de representantes, subindo de um para quatro. A Câmara tem 511 deputados.

Já no Senado, com 81 representantes no total, houve uma diminuição da bancada feminina. Quatro mulheres foram eleitas nesse ano: Damares Alves (Republicanos-DF), Professora Dorinha (União-TO), Teresa Leitão (PT-PE) e Tereza Cristina (PP-MS).

 Na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em 70 deputados, o número de representantes femininas no parlamento é de apenas 12 parlamentares mulheres.

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