O secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, e especialistas em epidemiologia da Fiocruz e UFRJ opinaram sobre a realização do carnaval na cidade em 2022, durante uma audiência pública da Câmara de Vereadores nesta sexta-feira (1°). Eles afirmaram que acreditam na realização do carnaval, desde que os números da pandemia de Covid atinjam certos parâmetros. (leia mais abaixo)
Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, menciona que elaborou um documento orientador, em conjunto com o epidemiologista da UFRJ Roberto Medronho, com as condições necessárias para a realização do carnaval.(leia mais abaixo)
No documento, constam os seguintes indicadores para que as festividades aconteçam:
- 80% da população com o esquema vacinal completo, levando em conta taxa de transmissão da variante delta na faixa de 5, para pessoas acima de 12 anos;
- Máximo de 5% de testagem positiva na cidade;
- Informações precisas e monitoramento sobre número de pessoas com síndrome gripal nas unidades de emergência;
- Leitos e enfermarias disponíveis;
- Controle em hotéis, pousadas e hostels com o passaporte vacinal, com apoio da Riotur;
- Controle de vacinação nas fronteiras aéreas, terrestres e marítimas;
- Testagem de antígeno (teste rápido) em todos os ambientes controlados;
- Oferta de atendimento/assistência e testagem (projeto de segurança sanitária) para os trabalhadores do carnaval, principalmente os de barracão
- Oferta de máscara, garantia de distanciamento em ambientes controlados [como os desfiles de escolas de samba, mas não os blocos de rua] e higienização das mãos;
- Construção de mecanismos para monitorar os indicadores.
Mesmo com os cuidados, Hermano diz que a data da realização do evento precisa ser debatida. Na audiência, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), Jorge Perlingero, alertou que, caso haja a necessidade de redução de público no carnaval, vai adiar os desfiles das escolas para junho de 2022.
Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, acrescentou mais os seguintes parâmetros:
- Baixa média de novos casos: para ele, o Rio deveria seguir a meta do Centro de Controle de Doenças dos EUA de uma média de 9 a 10 casos por semana por 100 mil habitantes. No Rio seria ter 600 casos por semana. Medronho acredita que com a vacina aliada a novas defesas do organismo é possível chegar a essa meta.
- O epidemiologista concorda com o máximo de 5% de testagens positivas e com a meta de vacinação – ele elogiou o ritmo do Rio, que atingirá a meta vários meses antes do carnaval.
Vacina
O secretário de Saúde afirmou que a expectativa é que a prefeitura consiga vacinar mais de 90% da população carioca com a segunda dose até meados de novembro.
Atualmente, o Rio tem:
- 70% dos adultos vacinados com as duas doses;
- 99,8% dos adultos com a primeira dose;
- 99,2% dos adolescentes com a primeira dose.
“A gente acredita que até o final de novembro a gente possa derrubar todas as principais restrições e protocolos no Rio. A utilização da máscara ou não é uma discussão que vai acontecer perto de novembro, a gente acha que é precoce começar agora”, explicou. (leia mais abaixo)
Soranz menciona ainda que, com o avanço da vacinação, houve queda no número de contágios e de internações.
“Ontem [quinta] fechamos 100 leitos destinados à Covid-19 no [Hospital] Ronaldo Gazolla. A expectativa é que até o final de novembro, a gente não tenha praticamente nenhuma leito exclusivo para Covid no hospital”, disse Soranz.
Ele explicou que não considera a taxa de ocupação de UTI de Covid como um dos parâmetros para a realização do carnaval, porque conforme os leitos de Covid vão sendo desmobilizados, eles vão sendo destinados ao tratamento de outras doenças. Medronho concordou com a interpretação.
Passaporte no Carnaval
Soranz também defendeu o chamado Passaporte de Vacinação, e diz que quer turistas no carnaval, mas que as pessoas venham imunizadas.
“Talvez não seja necessário ter passaporte em fevereiro. Talvez o mundo e o Rio de Janeiro tenham uma cobertura bastante alta, mas por enquanto a gente acha bastante necessário e muito importante”.
O que pode causar o cancelamento
Para o secretário, existem dois principais riscos que podem mudar as previsões positivas para a cidade até o ano que vem.
“O problema é termos uma nova variante que ultrapasse a barreira da vacina e um aumento do número de casos ou também a perda da capacidade de proteção da vacina ao longo do tempo. São dois riscos que a gente tem, que a gente se preocupa e vai monitorar”, afirmou.
“O número de infecções vem caindo, temos o menor número desde abril de 2020, em torno de 450. Imaginamos que o número vai se manter até dezembro, até porque é uma doença que leva um tempo de internação. Tem pacientes com sequela”, completou. (leia mais abaixo)
Soranz diz ainda que, no momento, “a recomendação da secretaria de saúde é que todos os órgãos se programem para fazer um réveillon espetacular, que se programem para fazer o maior carnaval da nossa história no ano que vem”.
“Mas é claro que a gente vai acompanhar os números muito de perto. É claro que a gente quer ter uma taxa de transmissão baixa, para termos capacidade de atender as pessoas. Se a gente tiver a taxa de transmissão alta por si só não vai dar pra ter carnaval”, disse o secretário.
Para o epidemiologista Roberto Medronho, se não houver a chegada de uma nova variante que escape da resposta imunológica das vacinas e a prefeitura consiga atingir a cobertura vacinal esperada, a cidade poderá chegar em fevereiro com baixa transmissão.
Medronho também afirmou que a Comissão da Câmara e a sociedade devem debater os aspectos éticos de optar por fazer a festa – ele é a favor desde que se atinjam certos parâmetros.
“Não é uma questão só quantitativa, dos indicadores, para além disso uma discussão ética. Precisamos na audiência pública e no debate para a sociedade, ao tomar a decisão de ter carnaval, ter bem claro que risco zero não existe. Qualquer evento”, afirma “‘Viver é correr risco’. Fez um evento: há o risco de ter doenças infecciosas de qualquer etiologia”, diz.
“Esses indicadores são para nortear a decisão de ter ou não o carnaval. Para além disso, precisamos em função não só das questões econômicas, mas também das questões referentes à saúde mental de todos, nós precisamos saber que há incertezas, não temos certezas que estará tudo bem em fevereiro. Há riscos em realizar o evento, entretanto, os benefícios da realização desse evento superam em muito”, completou.
Comissão Especial sobre o carnaval
O debate entre os especialistas e lideranças ligadas ao carnaval aconteceu no âmbito da Câmara dos Vereadores do Rio, em uma Comissão Especial com o objetivo de analisar a relação e as responsabilidades do poder público com a realização da folia no Rio. (leia mais abaixo)
Na reunião desta sexta (1°), realizada para discutir a realização da festa em 2022, também estavam presentes:
- Vereador Tarcísio Motta (presidente);
- Vereadora Monica Benicio (relatora);
- Vereadora Verônica Costa (membro);
- Presidente do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (IVISA-Rio), Rodrigo Prado;
- Representante da Riotur, Rafael Bandeira;
- Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), Jorge Perlingero;
- Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (LIESB), Clayton Ferreira;
- Chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura, Flávia Piana;
- Representante da Sebastiana (Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro), do Zé Pereira e do Cordão do Bola Preta, Rita Fernandes.
Fonte: G1