Um olhar, um perfume, um jeito especial de tratar ou de cativar. Tudo isso pode despertar a paixão em alguém, dizem os especialistas e, se rolar a “química”, prepara que lá vem uma enxurrada de sentimentos com direito à música romântica, ansiedade, nervosismo, suspiros e o desejo de estar junto.
Mas qual é a diferença entre paixão e amor? “Se perguntar o que é o amor pra mim. Não sei responder, não sei explicar, mas sei que o amor nasceu dentro de mim”, diz a letra da música do compositor Arlindo Cruz.
O amor “mexe” com a cabeça das pessoas, como na canção “É o amor”, sucesso na década de 1990, com Zezé Di Camargo e Luciano. Para tentar entender a diferença esse sentimento, o g1 aproveita o Dia dos Namorados, comemorado neste domingo (12), para mostrar o que dizem a ciência e a filosofia.
Tensão, suor na mão, coração acelerado
O psiquiatra Alisson Marques Teixeira, especialista em estudo do comportamento e da afetividade, explica que a paixão vai embora, já o amor, permanece. A ciência mostra que, ao conhecer alguém interessante, o corpo responde com hormônios e neurotransmissores.
Primeiro, com a liberação de adrenalina, vem a ansiedade, a tensão, o suor nas mãos, o coração acelerado.
“Isso acontece porque se está diante de algo novo, e a cabeça interpreta como algo perigoso, dizendo que é preciso estar vigilante”, diz Alisson.
O segundo elemento é a dopamina, que está relacionada ao prazer. “Toda vez que tenho o estímulo de uma boa conversa, uma boa companhia ou atração física, a dopamina é liberada dando a sensação de prazer. Ela esta relacionada à recompensa e, a medida que você se distancia, há uma necessidade de retomar o prazer e buscar a pessoa novamente”, explica o psiquiatra.
Alisson destaca que as primeiras emoções são “súbitas”, ou seja, repentinas ou inesperadas, que pegam as pessoas de “surpresa”. Esse momento pode ser descrito como paixão.
Já para o amor, é preciso unir três pontos: intimidade, paixão e decisão e vontade de estar juntos, diz o especialista. Mas, para o amor acontecer, de verdade, há um detalhe fundamental: as duas pessoas precisam estar comprometidas em “regar o sentimento”.
“Amor se constrói. Para se sustentar, nesse lugar de amor, é preciso estar revivendo os lugares vividos na paixão. Diante de um relacionamento, o companheirismo e a admiração pelo parceiro também fazem toda diferença”, ensina o psiquiatra.
Vários amores
O amor envolve, ainda, questões neurobiológicas e um fenômeno social. O psiquiatra Alisson Marques Teixeira lembra que quando uma criança nasce, ela é inserida em uma sociedade onde o conceito de amor se aprende, muitas vezes, de forma não verbalizada, ou seja, por meio de gestos e atitudes – e há “tipos de amores”:
Amor pragmático: que envolve o afeto, o companheirismo e resulta em relacionamentos duradouros
Amor altruísta: que envolve questões morais, sociais, espirituais, cristãs
Amor passional: aquele relacionado com a paixão, o corpo físico, o sexo
A ciência mostra que, após a relação sexual, o corpo libera oxitocina, o chamado “hormônio do amor”, que causa sensações boas. “Ela é liberada quando há orgasmo, por exemplo. Por isso que após a relação, muita gente gosta de ficar juntinho, abraçados”, explica o psiquiatra.
No entanto, quando o amor não é correspondido, acabam os estímulos, cai o prazer e a relação fica desinteressante, aponta o especialista.
“O mais complexo do amor, é que é muito difícil amar sozinho. Intimidade, paixão e decisão têm a ver com o outro. Se o casal não estiver em sintonia para fazer a mesma escolha, não se estabelece o vínculo, que é o cerne do amor. Amar é uma decisão diária, que é o maior desafio”, diz Alisson Marques.
Amor duradouro
Para o psicoterapeuta e neurolinguista Fabrício Nogueira, paixão e amor se completam. “A paixão, tem a ver com fogo, ímpeto, desejo, intensidade. Amor é segurança”, diz ele.
“Uma das maiores alegrias do ser humano é estar junto, é conectar-se. Boas amizades geram a sensação de pertencimento a um grupo, de ser importante para alguém. Se isso é tão forte com relações de amizade, imagine quando as conexões são mais profundas, envolvendo toque, entrega, cumplicidade”, aponta o neurolinguista.
“O amor é como se fosse a fase subsequente a paixão. É como se a paixão fosse a força da conquista, o ímpeto, e o amor fosse o deleite. Amor tem tudo a ver com segurança. Por isso, é possível perceber o amor diminuir a medida em que a pessoa passa a sentir-se mais insegura no relacionamento, com o passar dos anos”, explica Fabrício Nogueira.
Para quem está a procura desse sentimento, o especialista dá uma dica:
“Apaixone-se, ame, e busque o máximo possível gerar segurança no seu parceiro. A cumplicidade aliada à segurança faz o amor ser duradouro, e lembre sempre daquela dose especial de picância da paixão”, ensina Fabrício.
Quem inventou o amor?
Fabrício Nogueira explica que as grandes reflexões sobre o amor surgem na mitologia grega. Na obra de Hesíodo, chamada Teogonia, ele destaca algumas divindades que teriam dado origem ao mundo, como o deus Eros, da atração amorosa.
“Esse deus era o que permitia que o ser humano tivesse essa atração, com vista à procriação, a continuidade da espécie. Eros, então, era aquela força pulsante, era a paixão por meio da qual o homem, a mulher, os indivíduos se sentiam atraídos um pelos outros. Essa primeira perspectiva estava mais conectada com a paixão do que especificamente com o amor”, aponta o psiquiatra.
Com o cristianismo, surgiu uma “nova ideia” do que representa o amor. “A terminologia, então, ganhou caráter do pudor e não do não erotismo, dos casamentos combinados, dos dotes”, lembra o especialista. Depois, conta o estudioso, em meados do primeiro milênio, houve a demonização da paixão e a consagração do amor. “Hoje o processo é reverso, de revalorização da paixão e do amor”, celebra Fabrício. (leia mais abaixo)
Conheça algumas definições de amor
Eros: é o amor da relação íntima, entre homem e mulher. Envolve sedução e erotismo.
Philia: é o amor presente nos relacionamentos duradouros e é um tipo de amor fraternal, entre amigos, que exige lealdade e reciprocidade.
Ágape: é o amor universal relacionado com a caridade e com a compaixão. É um sentimento altruísta, paciente e que não exige nada em troca.
Fonte: G1