Diabetes 2 pode ser evitado com diagnóstico de risco precoce

A estimativa hoje é de que cerca de 537 milhões de adultos entre 20 e 79 anos convivam com a doença -cerca de 10,6% da população mundial

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O número de casos de diabetes deverá explodir nas próximas décadas. A estimativa hoje é de que cerca de 537 milhões de adultos entre 20 e 79 anos convivam com a doença -cerca de 10,6% da população mundial. Até 2045, mais de 780 milhões de pessoas serão diagnosticadas com a doença, segundo dados da Federação Internacional do Diabetes. O Brasil é o quinto país em incidência, com cerca 16,8 milhões de adultos doentes.

Existem mais de 12 tipos de diabetes, explicou à RFI o endocrinologista Levimar Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Os mais comuns são o tipo 2 e 1, conhecido por se manifestar na infância. Mas ele lembra que hoje muitos adultos desenvolvem a doença em idade mais avançada. “O tipo 1 é uma doença autoimune, que destrói as células beta”, explica.

 

De acordo com o endocrinologista, alguns vírus, como o da rubéola, ou o da covid-19, podem desencadear o processo. As células beta estão situadas nas ilhotas de Langerhans, no pâncreas, e secretam e sintetizam a insulina, que atua no controle da glicose, um carboidrato simples que fornece energia para o corpo.

O diabetes do tipo 2 é responsável pela explosão do número de casos da doença. Seu aparecimento é influenciado por fatores ambientais. Por isso ele pode ser evitado, mesmo que haja predisposição genética, diz o especialista.

 

“Às vezes o diabetes é herdado do pai, da mãe, da avó, e pode pular uma geração. Ele está relacionado ao sedentarismo e à obesidade: o paciente tem insulina, mas essa insulina não interage direito com os receptores, justamente por causa da obesidade. Por isso, temos visto o início do diabetes 2 em adolescentes, o que é muito preocupante.”

 

O endocrinologista lembra que o diabetes gestacional, que aparece durante a gravidez, mas geralmente desaparece após o parto, é também um fator de risco. Cerca de 20% das mulheres diagnosticadas continuarão a ser diabéticas.

 

“Gravidade da doença depende do seu controle”

O diabetes é grave desde que não seja controlado, O problema, diz o endocrinologista, é não saber que está desenvolvendo a doença. “Cerca de 46% das pessoas com diabetes 2 não sabem que têm esse diagnóstico e essa é nossa preocupação. [É preciso] fazer esse diagnóstico o quanto antes para evitar as complicações”.

Um exame que muitas vezes não faz parte da rotina clínica, lembra, é a glicemia pós-prandial. Ele consiste em ingerir um líquido com uma grande quantidade de glicose e medir, em seguida, as taxas de açúcar no sangue em jejum e uma e duas horas após as refeições.

O objetivo é detectar hiperglicemias, o aumento da taxa de glicose no sangue, depois de comer. Esta é a primeira alteração que indica que o pâncreas está tendo dificuldades para produzir insulina.

“O exame indica se o paciente é pré-diabético, o que já pode gerar complicações, como as cardiovasculares. Se for o caso, o médico pode indicar uma dieta adequada e o aumento da atividade física. Se necessário, até usar medicamento para não deixar que esse paciente se torne diabético”, explica.

 

Atualmente, o exame mais pedido nos controles é o da glicose em jejum, mas ele não basta para o diagnóstico. “A pessoa pode ficar entre 6 e 8 anos com diabetes e a glicose de jejum estar normal. Não podemos nos basear apenas neste exame. Precisamos medir também a glicose pós-prandial e a hemoglobina glicada. Neste exame, se a taxa estiver acima de 6,5%, já temos um diagnóstico de diabete, mesmo se a glicose em jejum estiver normal”, diz.

O especialista também alerta que, em cidades brasileiras com menos infraestrutura, a medida da hemoglobina glicada nem sempre é confiável. Neste caso, o exame pós-prandial pode confirmar a condição.

 

Não há uma idade específica para se iniciar os exames, frisa: é preciso ficar atento aos sinais e sintomas, como muita sede, aumento do volume de urina e emagrecimento. “Existe também um sinal que aparece no pescoço e debaixo do braço, de resistência à insulina, chamado Acantose Nigricans. Se ele for detectado, podemos escanear esses pacientes independentemente da idade”, explica.

 

Pessoas que têm colesterol alto, são obesas e têm hipertensão devem ser mais vigilantes. Mulheres que tiveram filhos que pesavam com mais de quatro quilos no nascimento também fazem parte do grupo de risco e devem realizar exames complementares.

 

Covid-19 gerou aumento de casos

O endocrinologista brasileiro alerta que as projeções sobre o aumento de casos de diabetes no país são “assustadoras”, e é preciso agir rapidamente. “O Brasil, em 2045, deve ocupar a quarta colocação em números de casos de diabetes, o que não é mérito nenhum. Isso é fruto dos hábitos que têm mudado”, diz.

 

A pandemia e o lockdown, alerta, geraram mudança na alimentação e aumentaram o sedentarismo da população. “Neste período, tivemos um crescimento dos pacientes diabéticos”, frisa.

 

O presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes também destaca o aumento de casos de diabetes do tipo 1 em crianças contaminadas pela covid-19. Segundo ele, diferentes estudos indicaram que o vírus influencia diretamente as células beta.

 

“Percebemos esse aumento também no Brasil. No ano passado, algumas análises mostraram o crescimento de 33% de casos de diabetes tipo 1 após a epidemia. Em uma semana, em meu consultório, atendi quatro crianças de 4 anos que, logo após pegarem a covid-19, que foi leve, desenvolveram diabetes.”

 

As infecções virais, lembra, sempre podem ser um gatilho para que a doença se manifeste, caso haja predisposição. Mas ele ressalta também que os tratamentos e o monitoramento do diabetes, que depende do ajuste da dose de insulina no corpo, estão cada vez mais eficazes.

“Em relação ao tipo 1, hoje temos bombas de infusão de insulina cada vez mais automatizadas e inteligentes, que diminuem as crises de hipoglicemias e as hiperglicemias, quando a criança ou adolescente se esqueceu de aplicar a insulina, por exemplo”, explica.

 

Emoção altera a glicose

Vários medicamentos novos também foram lançados para tratar o diabetes tipo 2 e estão disponíveis no SUS para pacientes a partir de 65 anos. Além de controlar a insulina, eles também preservam o rim, diminuem o risco de infarto, a pressão e o peso.

 

Outras drogas novas inibem a produção de insulina após as refeições. Alguns remédios, apresentados recentemente no Congresso Mundial do Diabetes, devem chegar em breve ao Brasil, conta. (leia mais abaixo)

 

Lutar contra o stress é outro fator importante. “Tratamos de pessoas que têm alteração de glicose. Ter tempo com a família, de atividade física, e para relaxar, é muito importante no controle do diabetes. A emoção altera a glicose.”

Fonte: VivaBem

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